terça-feira, 27 de agosto de 2013

Casa da Íza


Quando pequeno, em minha infância nos anos 90, lembro bem de uma das ordens que minha mãe deixava ao avisar que iríamos visitar alguém: “Não mexe em absolutamente nada e não peça nada pra comer”. E sempre no tom severo que me acostumei à ouvir quando lembro desses fatos. E assim cresci. Contudo, nunca me abalei muito por conta dessa lembrança, nunca chegou a ser um fantasma ou um trauma da infância. O ditado do “magro de ruim” se adéqua muito à mim, costumo dizer que não como muito mas como bem.


Sobre isso, a casa da Iza não é um ambiente o qual eu faça cerimônia dessas lembranças. Muito pelo contrário, soa até ofensivo à família Venas sair daquela casa sem ter comido algo. E eu, como bom menino desde sempre, faço questão de me deliciar com tudo que me é oferecido. Minha mãe ficaria uma fera uns anos atrás, tenho certeza.

Conheci Iza Venas quando cursava o segundo período do meu técnico. Uma morena cor de jambo, cabelos encaracolados demasiadamente cheios, um sorriso de fazer o coração bater mais rápido... em suma, uma pessoa notável não só na rua pelos homens, mas em qualquer lugar que chegue. Elogiá-la é muito fácil e tudo isso eu pude perceber muito rápido com nossa convivência em sala de aula. Através dessa convivência é que pude me sentar à mesa com sua família: nos tornamos muito amigos não só por diversas razões.

Hoje, quando chego na casa da Iza já conheço as regras: sentar-se à mesa e passar a tarde (ou qualquer horário) degustando de um bom papo e uma infinita possibilidade de sabores. Comer um sanduíche, beber café, achocolatado, refrigerante, suco, comer dois tipos de bolos diferentes, salgadinhos, sorvete, salpicão, empadão, morango ao leite... Não importa a ordem ou se vai misturar tudo isso, o objetivo da Família Venas é ver a satisfação do convidado para com sua anfitriã. É simplesmente uma delicia ir à casa da Iza.

Nós conversamos sobre muitas coisas, rimos, falamos sério, compartilhamos momentos e sentimentos, isso torna a visita muito mais agradável. A comida em si é um chamariz para esses deliciosos momentos em companhia da Iza. E não se pode recusar nada, isso sempre esteve muito claro. A não ser que realmente não goste de tal coisa, caso contrário, toda a beleza de tradição da morena se volta numa expressão que intimida o cara mais durão do bairro. Ela é assim, desse jeito, um jeito todo particular.


Casa da Iza é igual casa de vó, e isso é uma das coisas que eu mais aprecio. Ora, tem coisa melhor que ser acolhido numa casa com um astral tão nostálgico e tão maravilhosamente límpido assim? Não tem. Casa de vó tem dessas coisas, parece casa da Iza mesmo. Um lugar tão amável e espiritualmente leve que nem dá vontade de ir embora, a gente quer mesmo é ficar ali naquela cozinha vendo o dia passar. Eu espero que todos tenhamos nossas Casas de Iza por ai, com outros nomes mas com o mesmo efeito que deixa na gente.

o texto carece de fotos minhas na casa e em companhia de Iza.

Nenhum comentário: