Quando pequeno, em minha infância nos anos 90, lembro bem de
uma das ordens que minha mãe deixava ao avisar que iríamos visitar alguém: “Não
mexe em absolutamente nada e não peça nada pra comer”. E sempre no tom severo
que me acostumei à ouvir quando lembro desses fatos. E assim cresci. Contudo,
nunca me abalei muito por conta dessa lembrança, nunca chegou a ser um fantasma
ou um trauma da infância. O ditado do “magro de ruim” se adéqua muito à mim,
costumo dizer que não como muito mas como bem.
Sobre isso, a casa da Iza não é um ambiente o qual eu faça
cerimônia dessas lembranças. Muito pelo contrário, soa até ofensivo à família
Venas sair daquela casa sem ter comido algo. E eu, como bom menino desde
sempre, faço questão de me deliciar com tudo que me é oferecido. Minha mãe
ficaria uma fera uns anos atrás, tenho certeza.
Conheci Iza Venas quando cursava o segundo período do meu
técnico. Uma morena cor de jambo, cabelos encaracolados demasiadamente cheios,
um sorriso de fazer o coração bater mais rápido... em suma, uma pessoa notável
não só na rua pelos homens, mas em qualquer lugar que chegue. Elogiá-la é muito
fácil e tudo isso eu pude perceber muito rápido com nossa convivência em sala
de aula. Através dessa convivência é que pude me sentar à mesa com sua família:
nos tornamos muito amigos não só por diversas razões.
Hoje, quando chego na casa da Iza já conheço as regras:
sentar-se à mesa e passar a tarde (ou qualquer horário) degustando de um bom
papo e uma infinita possibilidade de sabores. Comer um sanduíche, beber café,
achocolatado, refrigerante, suco, comer dois tipos de bolos diferentes,
salgadinhos, sorvete, salpicão, empadão, morango ao leite... Não importa a
ordem ou se vai misturar tudo isso, o objetivo da Família Venas é ver a satisfação
do convidado para com sua anfitriã. É simplesmente uma delicia ir à casa da
Iza.
Nós conversamos sobre muitas coisas, rimos, falamos sério,
compartilhamos momentos e sentimentos, isso torna a visita muito mais
agradável. A comida em si é um chamariz para esses deliciosos momentos em
companhia da Iza. E não se pode recusar nada, isso sempre esteve muito claro. A
não ser que realmente não goste de tal coisa, caso contrário, toda a beleza de
tradição da morena se volta numa expressão que intimida o cara mais durão do
bairro. Ela é assim, desse jeito, um jeito todo particular.
Casa da Iza é igual casa de vó, e isso é uma das coisas que
eu mais aprecio. Ora, tem coisa melhor que ser acolhido numa casa com um astral
tão nostálgico e tão maravilhosamente límpido assim? Não tem. Casa de vó tem
dessas coisas, parece casa da Iza mesmo. Um lugar tão amável e espiritualmente
leve que nem dá vontade de ir embora, a gente quer mesmo é ficar ali naquela
cozinha vendo o dia passar. Eu espero que todos tenhamos nossas Casas de Iza
por ai, com outros nomes mas com o mesmo efeito que deixa na gente.
o texto carece de fotos minhas na casa e em companhia de Iza.
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